TST DEFINIU: Reforma trabalhista se aplica imediatamente aos contratos em curso.

Imagine um trabalhador que, por anos, contava com certos benefícios em seu contrato, como o pagamento do tempo de deslocamento até o local de trabalho. Em 2017, com a entrada em vigor da Reforma Trabalhista, muitas dessas regras foram alteradas ou extintas, levantando uma dúvida fundamental: essas mudanças afetam contratos antigos ou apenas os novos?Essa questão foi amplamente debatida até o Tribunal Superior do Trabalho (TST) apresentar uma tese sobre o tema, esclarecendo como a nova legislação impacta os contratos em vigor. Neste artigo, exploramos essas mudanças, os reflexos na prática trabalhista e o impacto direto nos direitos e deveres de empregados e empregadores.

Reforma Trabalhista: Transformações Profundas no Direito do Trabalho

A Lei nº 13.467/2017, conhecida como Reforma Trabalhista, alterou mais de 100 artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Suas mudanças mais impactantes incluem:
      • Fim das horas “in itinere”: o tempo de deslocamento em transporte fornecido pela empresa deixou de ser contabilizado como parte da jornada.
      • Intervalo intrajornada reduzido: o não usufruto do intervalo deixou de gerar reflexos em férias, 13º salário e FGTS, sendo pago como verba indenizatória.
      • Contribuições sindicais facultativas: sindicatos não podem mais cobrar compulsoriamente a contribuição anual.
      • Parcelamento de férias: possibilitou dividir as férias em até três períodos.
    Essas mudanças trouxeram incertezas, especialmente porque o texto da lei não definiu de forma clara como as novas regras se aplicariam aos contratos já existentes.

    Princípios Jurídicos em Conflito: Irretroatividade e Aplicação Imediata

    No Direito do Trabalho, dois princípios fundamentais entraram em choque com a Reforma:
        • Irretroatividade das Leis: leis não podem afetar direitos adquiridos antes de sua vigência.
        • Aplicação Imediata: novas normas trabalhistas devem ser aplicadas aos contratos vigentes, respeitando os direitos já consolidados.
      Essa tensão gerou insegurança jurídica, especialmente para trabalhadores que contavam com benefícios que a nova legislação eliminou. Foi nesse contexto que o TST analisou o caso no Incidente de Recursos Repetitivos nº 23 (IRR-23).

      O Que Decidiu o TST? A Tese Sobre Contratos Vigentes

      O TST apresentou uma tese que buscou harmonizar esses dois princípios:
      “A Lei nº 13.467/2017 possui aplicação imediata aos contratos de trabalho em curso, regulando direitos cujo fato gerador tenha ocorrido após sua vigência.”
      Em resumo:
          • Contratos de trabalho em vigor seguem as novas regras para eventos ocorridos após 11/11/2017.
          • Direitos gerados antes dessa data permanecem protegidos pela legislação antiga.
        Essa decisão trouxe maior clareza jurídica, mas não eliminou totalmente os desafios na interpretação e aplicação das mudanças.

        Exemplos Práticos: Como as Mudanças Afetam Trabalhadores e Empresas

        Horas “in itinere”

        Antes da Reforma: o deslocamento em transporte fornecido pela empresa era considerado parte da jornada e remunerado. Após a Reforma: esse direito foi eliminado para eventos após 11/11/2017.Caso real: No processo E-RR-528-80.2018.5.14.0004, o TST decidiu que as horas “in itinere” deveriam ser pagas até 10 de novembro de 2017, mas não seriam mais devidas após essa data.

        Intervalo intrajornada

        Antes da Reforma: o intervalo não concedido gerava reflexos em férias, 13º salário e FGTS. Após a Reforma: tornou-se uma verba indenizatória, sem repercussões em outros direitos.Impacto direto: Essa mudança gerou economia para empregadores, mas reduziu ganhos para trabalhadores que não usufruem do intervalo.

        Parcelamento de Férias

        Antes da Reforma: férias eram concedidas de uma única vez ou divididas em, no máximo, dois períodos. Após a Reforma: as férias podem ser divididas em até três períodos, com um mínimo de 14 dias em um dos períodos.Esses exemplos ajudam a entender como a Reforma impacta os contratos vigentes, diferenciando direitos adquiridos daqueles que se aplicam apenas após as mudanças.

        Impactos Econômicos e Sociais da Reforma Trabalhista

        Para o mercado de trabalho

        A Reforma foi apresentada como uma solução para modernizar as relações de trabalho e estimular a geração de empregos. Contudo, críticos argumentam que muitas mudanças favoreceram as empresas, com pouco impacto na criação de novas vagas.Impacto positivo:
            • Flexibilidade para empregadores adaptarem suas práticas às demandas do mercado.
          Impacto negativo:
              • Redução de benefícios para trabalhadores pode aumentar a precarização em alguns setores.

            Para as relações sindicais

            A extinção da obrigatoriedade da contribuição sindical diminuiu significativamente o poder financeiro dos sindicatos, afetando sua capacidade de negociação coletiva.

            Estratégias para Adaptação: O Que Trabalhadores e Empresas Devem Fazer

            Dicas para Trabalhadores

                • Mantenha registros claros: guarde recibos, folhas de ponto e outros documentos que comprovem direitos adquiridos antes de 11/11/2017.
                • Busque informação: familiarize-se com as mudanças e como elas afetam sua categoria profissional.
                • Procure apoio jurídico: um advogado trabalhista pode ajudar a identificar direitos não cumpridos.

              Dicas para Empresas

                  • Capacite equipes de RH: garanta que gestores compreendam as novas regras para evitar falhas no cumprimento da legislação.
                  • Realize auditorias trabalhistas: avalie contratos antigos para corrigir possíveis inconsistências e prevenir ações judiciais.
                  • Comunique-se com clareza: informe aos funcionários sobre as mudanças e como elas serão aplicadas.

                Conclusão: Adaptação e Conhecimento Como Solução

                A Reforma Trabalhista trouxe mudanças significativas nas relações de trabalho no Brasil, impactando contratos vigentes de maneira variada. A decisão do TST, embora tenha clarificado parte das dúvidas, exige que trabalhadores e empresas se adaptem rapidamente às novas regras.Para trabalhadores, conhecer seus direitos é essencial para evitar perdas. Para empresas, a adequação às novas normas é vital para reduzir riscos legais. Em um cenário de transformações constantes, conhecimento e planejamento são as chaves para superar desafios e construir relações trabalhistas mais sólidas.Se você ainda tem dúvidas sobre seus direitos ou obrigações, procure um especialista. Estar bem informado faz toda a diferença!
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                Luciano Mourão

                Advogado pós-graduado em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Direito Previdenciário, com atuação há mais de 15 anos.

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